Jornal ÉME – Luanda – 26.01.24 – O Secretário-Geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, considerou, quarta-feira (24) em Nova Iorque, África um lar da esperança, e sublinhou que o potencial do continente só poderá ser concretizado com a eliminação da sombra do terrorismo que se espalha rapidamente.

Numa reunião do Pacto Global de Contraterrorismo, Guterres focou-se no impacto do terrorismo em África, continente que se tornou num “epicentro global” desse “inferno crescente que está a engolir milhões de africanos”.

O líder da ONU recordou que, em todo o continente africano, o Daesh, a Al-Qaeda e os afiliados estão a explorar as dinâmicas e fragilidades dos conflitos locais para fazer avançar as suas agendas, ao mesmo tempo que destroem o tecido social de países inteiros “com as lâminas da violência, da desconfiança e do medo”.

Entre os países onde isso acontece, Guterres apontou a Somália, a República Democrática do Congo e Moçambique, onde o terrorismo continua a ser “uma ameaça activa” no Norte do país.

“Um padrão perturbador é claro. Comunidade por comunidade, os grupos terroristas estão a alargar o seu alcance, a aumentar as suas redes continentais com mais combatentes, financiamento e armas, a forjar laços com grupos transnacionais do crime organizado. E a espalhar medo, miséria e ideologias de ódio através do ciberespaço”, denunciou.

“Em todos os casos, os civis pagam o preço mais elevado. Mas, no final, toda a humanidade paga”, frisou ainda Guterres

Por outro, o ex-Primeiro-Ministro português destacou que em toda a África são cada vez mais os exemplos positivos de Estados-membros e organizações sub-regionais que se esforçam para combater o terrorismo e o extremismo violento.

Esses esforços incluem o Grupo de Trabalho Multinacional da Bacia do Lago Tchad para combater o Boko Haram, a Missão de Transição da União Africana na Somália, e os esforços da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e do Rwanda para combater o terrorismo no Norte de Moçambique.

“Nós próprios [ONU] estamos a trabalhar em estreita colaboração com a União Africana, a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e outros em matéria de prevenção, assistência jurídica, investigações, processos, reintegração e reabilitação, e protecção dos direitos humanos”, assinalou.

Outro sinal de progresso indicado por Guterres foi a adopção unânime pelo Conselho de Segurança da ONU de uma resolução sobre o financiamento das operações de apoio à paz lideradas pela União Africana.

As operações de apoio à paz, lideradas pela União Africana e autorizadas pelo Conselho de Segurança, terão, agora, acesso ao financiamento proveniente de contribuições fixas da ONU, não excedendo 75 por cento dos seus orçamentos anuais, com o montante restante a ser mobilizado conjuntamente pela comunidade internacional.

“Todas essas são etapas importantes. Mas precisamos de medidas urgentes, numa escala muito maior [do que] temos visto até agora. (…) Os nossos esforços devem estar ancorados no desenvolvimento sustentável e inclusivo”, sustentou.

“Isolamento, desigualdades, acesso limitado à escola, falta de oportunidades de emprego, erosão da confiança no Governo, nas instituições e no Estado de direito, violações dos direitos humanos e percepções de impunidade – em conjunto, estas condições conduzem à propagação do terrorismo. Precisamos acabar com esse círculo vicioso”, exortou o secretário-geral da ONU.

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