Celso Malavoloneke
Jornal ÉME- Luanda- 19.01.24 – Tenho uma afinidade antropológica com a filosofia política do MPLA. É que, o MPLA tem mais que isso; tem uma mística construída em 66 anos de existência. O que é isso de mística? Difícil de explicar. É aquela coisa que, mais do que no coração, toca-nos na alma.
Mexe com a nossa estrutura e dá solidez à nossa existência política, nesse caso. Faz-nos sentir que pertencemos a algo maior e dá a marca de identidade para (re)conhecer os camaradas que são parte da mesma mística.Esse é um elemento muito forte.
Acredito que na África Sub-sariana apenas o ANC tenha-a comparável a do MPLA, pelas mesmas razões: ter sido temperada em muitos anos de luta e por abraçar a pluralidade antropológica.Essa é para mim, a grande diferença da mística do MPLA e dos outros dois movimentos de libertação, a FNLA e a UNITA.
Enquanto a primeira nunca conseguiu se libertar da matriz Kôngo, a segunda continua amarrada à matriz Umbundu, o que marginaliza as outras essências antropológicas. Já no MPLA, desde a sua génese há uma pluralidade assumida.
Uns chamam a isso crioulismo, outros luso-tropicalismo e outros ainda, como um meu amigo, dizem que não tem matriz sequer.
Há também os que lhe atribuem uma matriz Ambundu. Mas de facto, a convivência descomplexada – se bem que nem sempre pacífica – destas todas essências matriciais, é que dão esse toque apelativo único à mística do MPLA.
Dirão alguns que o partido atravessa uma daquelas turbulências cíclicas que, volta e meia o sacodem num processo regenerativo e, estarão certas estas pessoas.
Desenganem-se, porém, se pensam que isso há de destrui-lo; É ali que a força da mística que tem fá-lo-á triunfar mais uma vez. Porque na hora da verdade manterá mobilizados, não só os militantes como os amigos e simpatizantes.
E, esperamos, os cidadãos e cidadãs a quem oferece o seu projecto de Nação…