By: Nzongo Bernardo dos Santos
Jornal ÉME – Luanda – 14.10.2025 – Faltando-nos pouco mais de 12 horas, à luz do disposto no artigo 118º da Constituição da República, para que o Chefe de Estado e Presidente de todos os angolanos, João Lourenço, profira na “Casa da Democracia”, o tão aguardado Discurso sobre o Estado da Nação, as habituais expectativas populares, em torno do assunto vão-se generalizando ao ponto de (quase) ninguém ficar indiferente.
E ainda bem que seja assim, visto que temos a “sorte” de ter uma população tão vasta quanto estratificada, algo que traduz bem as complexidades e dissonâncias do nosso panorama social e, sobretudo político.
Um contexto em que nem tudo o que parece realmente é, mesmo onde as coisas aparentemente correm melhor.
Num esforço enorme de fazer com que todos continuemos a acreditar no País, temos de valorizar as coisas boas e manter o optimismo.
Quem quiser ser o último a sair, por favor não apague apenas a luz, mesmo que acredite que a única luz que por aqui (ainda) restou, seja de vela.
Certamente, alguns vão gostar muito de ouvir a mensagem que o N.º1 da Nação vai transmitir a Mãe-Pátria, outros nem tanto, outros ficarão claramente em cima do muro sem saber o que dizer e pensar.
Mas há também aqueles outros, e já estamos vacinados e carecas de saber, que, como sempre vão
xinguilar de tudo em público, no maior muro de lamentações do planeta, refiro-me as redes sociais, com o intuito de impor a lei da rolha azeda.
Fica por se saber o pensamento único daqueles que, fora ou não da realidade nunca deixaram de acreditar que Angola continua a ter tudo e mais alguma razão para dar certo.
Refiro-me àqueles que gostam de ser identificados como membros de pleno direito de uma nação em construção, que por sinal será o ponto principal da própria mensagem que o Presidente João Lourenço transmitirá durante a sessão de abertura do novo ano parlamentar.
No limite, a valorização de um acto solene tão importante para a vida do País, como o que ocorrerá nesta quarta-feira, poderia até levar-nos a pensar numa emenda constitucional que vinculasse e condicionasse muito mais as críticas exacerbadas do que os elogios comedidos dos cidadãos que, com base, num atabalhoado e desconcertante passe de mágica, apresentassem prognósticos, palpites, vaticínios, presságios, ora funestos, ora sinistros, que só estão ao alcance da macrocefalia explosiva da oposição política angolana que não para de crescer para cima, para os lados e para baixo.
Quer gostemos, quer não e sem qualquer intenção de endeusar seja quem for, o que não é, nem de perto nem de longe a especialidade de quem escreve este artigo, parece-nos pacífico sublinhar que nesta altura, o País precisa(va) de se mobilizar em torno de uma consciência colectiva e do reforço dos laços de convivência pacifica em apoio ao Presidente dos angolanos de Cabinda ao Cunene e do Mar ao Leste e até pela diáspora , apesar dos momentos menos bons ou não assim tão maus que subsistem.
Este ainda é um pré-requisito inegociável, e não um posicionamento platónico, pois baseia-se na atitude e no desempenho protagonizados por um Presidente que (ainda) precisa do apoio de quem se julgue patriota, quando se apercebe da hercúlea tarefa de gerir esta complexa missão de Estado a que se propôs. A mudança que todos nós ansiávamos, e ainda ansiamos, não teve um impacto maior e real por permanecerem muitas réstias de uma herança assustadoramente pesada.
Penso não estar errado, mas creio que tenho uma dose de razão.
O processo institucional de mudança socioeconómica do País pode ser lento, frustrante, até labiríntico.
Mas é através dele que garantimos justiça, estabilidade e equidade. Quando se contorna esse processo, abre-se caminho à arbitrariedade, onde todo esforço feito para abrir caminhos entre as pedras, pode passar constantemente a ser tapado com entulho.
Apesar dos avanços e recuos, o Pais continua a manter a esperança ainda mais viva do que aquela que nos ensinaram na escola da vida, que como se sabe, é a última a morrer.
É este culto da esperança que deve continuar a nos animar, a dar razões para sorrir e acreditar que o nosso dia de entrar no comboio da distribuição geral da riqueza nacional algum dia vai chegar, de preferência ainda durante o nosso tempo de vida útil, que hoje tem uma média próxima dos cinquenta anos.
Pois também está provado que, sem esperança, poderíamos ter de enfrentar um culto ainda pior e que algumas seitas, na história da humanidade, praticaram com bastante sucesso, que é o culto do suicídio colectivo.
Cada um de nós enquanto cidadão deste País, fará certamente a sua avaliação do Discurso sobre o Estado da Nação, puxando a brasa para a sua sardinha, como é normal nas conversas de circunstâncias e no debate público.
Contudo, acredito que haverá, um denominador comum no meio das eventuais divergências ao tratarmos de dissecar a mensagem que tanta água ainda há-de fazer correr, sobretudo ao nível da opinião pública e publicada ainda mais com o advento da Internet das redes sociais e do Facebook.
Este denominador comum chama-se Angola, antes de mais e de tudo o resto.
Afinal, o País que já comemorou 23 anos de paz efectiva e vai celebrar 50 anos de Independência Nacional, sempre deu provas de que (ainda) tem rumo.
