Por: Nzongo Bernardo dos Santos
Jornal ÉME – Luanda – 06.10.2025 – Uma organização coesa e forte é aquela em que todos os seus membros trabalham em harmonia, compartilham objectivos comuns e se apoiam mutuamente.
Mais ainda, quando no seu seio existem camaradas “de carne e sangue” , verdadeiros companheiros, cujo vínculo, muitas vezes superior à própria irmandade biológica, os torna irmãos de luta, de causas e de jornadas.
A experiência acumulada ao longo dos mais de 68 anos de existência do MPLA demonstra que o termo “camarada” sempre teve um significado profundo e uma rica história dentro da sua família política.
Foi o espírito de camaradagem que fortaleceu a unidade e a identidade do MPLA, além de potencializar a sua capacidade de enfrentar desafios e alcançar conquistas significativas.
Mas quando se afirma que o MPLA é, e continuará a ser, o Partido dos “camaradas”, será que ainda se preserva o espírito de camaradagem dos tempos passados?
Afinal, quais são os valores, anseios e expectativas que hoje sustentam o uso da expressão “meu camarada”? Referimo-nos àqueles que estão do mesmo lado da barricada, da mesma luta política?
Essas e outras perguntas deveriam nos levar a refletir que “ser camarada” do “meu camarada” é um activo em constante construção. É reconhecer que somos incompletos e que precisamos uns dos outros sem a pretensão de sermos perfeitos.
Hoje, em meio à construção de tantas narrativas nas redes sociais, nos meios mediáticos e nas actividades oficiais, corremos o risco de nos dispersar. O termo “camarada” tem sido, por vezes, banalizado, ostracizado ou até ridicularizado, esvaziando-se da sua dignidade humana e dimensão social.
“Infelizmente, camarada Nzongo, hoje há camaradas que não são camaradas”, confidenciou um político experiente, pertencente a uma geração que fazia da camaradagem uma força interior.
Parece até um “complikometrô”, pois cresci a ouvir da geração que antecedeu a minha que a camaradagem implica ver o outro como um fim em si mesmo. Implica acreditar na dignidade e na solidariedade como motores de uma convivência comum e pacífica.
Se é verdade que minha geração vive uma crise de camaradagem, o que deixaremos como legado às futuras gerações? Num tempo em que os valores morais e éticos se invertem, vive-se um falso moralismo que impede o encontro com o nosso interior e com o outro?
Sabemos que o mundo político está hoje repleto de paraquedistas, bailarinos e turistas de boa lábia, que pouco ou nada representam em termos de mais-valia. E mesmo para ser paraquedista, bailarino ou turista, é preciso saber o que se quer, pois essas “funções” exigem um factor indispensável: o kumbu, o jabaculê, o kitadi, o lonbongo.
Não seria necessário, então, falar sem tabus sobre a actualização do termo “camarada”?
Que durante as comemorações dos 69 anos de existência do “Glorioso” MPLA, no dia 10 de Dezembro deste ano, se reserve ao menos um momento para reflectir e dialogar entre camaradas sobre o verdadeiro significado de ser “um camarada”, seus valores, missão e expectativas.
Pensemos nisso, camaradas.