Por: Nzongo Bernardo dos Santos

Jornal ÉME – Luanda – 25.09.2025 – A desorientação estratégica, ideológica e partidária, somada à credibilidade abalada pelo pragmatismo absoluto da (ainda) considerada maior força política da oposição em Angola, está minada. Sempre esteve. Agora, mais do que nunca. E de forma descarada. Tipo na “kixima”.

Desta vez, não se contentaram com o clássico tiro no pé, fizeram pior: colocaram a granada no bolso.

Refiro-me ao mais recente “kizangu” protagonizado por membros da direcção da JURA, ala juvenil do partido do galo negro, que participaram na 5ª edição da Academia Política da Juventude do partido português CHEGA.

A repercussão negativa não tardou a “pipocar” e incendiar as redes sociais.

Nem mesmo o comunicado, mais oportunista do que oportuno ,divulgado pela agremiação juvenil conseguiu abrandar os estragos do teatro de fundo mal ensaiado.

Em política, não existem formações, workshops ou seminários promovidos por partidos neutros, não importa o nível da estrutura.

Quem é convidado para esses eventos vai com a finalidade de absorver os valores, métodos e visões de mundo que refletem a ideologia do partido anfitrião, mesmo que seja para um pacato intercâmbio cultural ou um exercício de dança “Cabetula”.

Ao aceitar o convite do CHEGA, os “ndengues” da JURA comprometeram-se com um fórum da “mbuanja” organizado por um partido assumidamente neo-fascista em Portugal.

Não foram jogar xadrez, como seria estratégico, foram jogar damas… e jogaram mal. Entraram em contradição directa com as declarações do líder da extrema-direita, que chamou o Presidente da República de Angola e todos os angolanos com uma série de impropérios e adjectivos depreciativos, insinuando autoritarismo, brutalidade e falta de civilidade.

A decisão da direcção do galo negro é incoerente com a linha ideológica internacional do próprio partido.

O “dikolombolo” ocupa uma das vice-presidências da Internacional Democrata Centrista (IDC), uma plataforma de partidos democratas-cristãos e de centro-direita moderada.

Em Portugal, o parceiro natural dessa aliança é o Partido Social Democrata (PSD), não o CHEGA. Se houvesse um prémio de mitomania política, os participantes da JURA seriam vencedores incontestáveis.

De facto, se houvesse prémio de mitomania política, para os participantes á 5ª edição da Academia Política da Juventude, as “cassandras” ligadas a extensão juvenil do galo negro, seriam justos vencedores.

Pior ainda: entra aqui a memória da história. Não é a primeira vez que o galo negro se aproxima de aliados controversos e antagónicos, sempre que lhe convém olhar para o próprio umbigo, só para defender os seus interesses.

Em Março deste ano, durante a conferência da IDC em Benguela, organizado por este partido, a lista de convidados incluía evangelizadores políticos conhecidos por transformar protestos em caos e descontentamentos em rebelião, como Venâncio Mondlane (Moçambique), Edwin Sifuna (Quénia), Andrés Pastrana (Colômbia), entre outros.

Se tivessem participado, no evento teriam promovido uma “nguenda” onde se discutiria democracia sem legitimidade e governação sem poder, sem estratégia real para conquistar o povo.

A UNITA parece esperar que o poder em Angola caia de maduro, fazendo pouco para mostrar aos angolanos que, quando o fruto não presta, deve ser retirado mesmo verde.

O galo negro está diante do espelho. Ou escolhe firmar-se como partido relevante, ou aceita dissolver-se no abraço de outros, perdendo a pouca identidade que (ainda) lhe resta.