By: Nzongo Bernardo dos Santos

Jornal ÉME – Luanda – 03.09.2025 – Quando ouvir alguém dizer que está com saudades dos ‘velhos tempos’ do colono e da “kitota” onde “xofrer foi xofrer”, e que eramos felizes e não sabíamos, desconfie.

É uma forma de terrorismo político e social que procura brincar e sabotar com uma equivocada frágil relação entre os cidadãos e as instituições.

Até parece um “braço armado” daquilo que nunca foi o interesse nacional.

Acredito que é parte da natureza humana, especialmente em tempos de mudanças e incertezas, querer olhar para trás para algum passado imaginário no qual tudo funcionava, e que eram todos inteligentes, e toda criança tinha boas – maneiras.

Os exemplos que vão surgindo indicam, de forma convincente, que existem ainda muitas mentes, incapazes de aceitar esta pura e dura realidade.

O Guia Imortal e Fundador da nossa nação, Drº António Agostinho Neto, carinhosamente apelidado por uns de “Man Nguxi” e por outros de “Kilamba Kiaxi”, nunca comungou com superstições, tampouco com sectarismos e muito menos ainda com tribalismo.

Ele acreditava no racional em vez do experimental, tanto que é, que usou uma célebre palavra de ordem que esteve na base da edificação da génese da nossa unidade nacional.

Passo a citar com muito orgulho, “DE CABINDA AO CUNENE UM SÓ POVO, UMA SÓ NAÇÃO”.

Vivemos em uma grande nação e estamos correctamente orgulhosos da nossa história.

Hoje há quem ponha em dúvida a escala das nossas conquistas, das vitórias alcançadas, e daquelas que ainda temos o direito de legitimidade alcançar – quem insinue que a nossa forma de estar como país não pode permitir a execução de pequenos e grandes projectos estruturantes de dimensão nacional.

Têm a memória curta.

Porque se esqueceram do que este país já realizou; do que homens e mulheres podem alcançar quando conjugam a imaginação e o objectivo comum, a necessidade e a coragem.

Os problemas, que eu prefiro chamá-los de desafios que nos confrontamos hoje são reais. Nunca terão resposta fácil nem num curto espaço de tempo. Mas que todos fiquem sabendo: eles
sempre foram encarados e sempre terão respostas.

De um jeito, ou de outro.

Ao reafirmar a grandeza da nossa mãe-pátria, compreendemos que essa grandeza nunca foi e nunca será um dado adquirido. Tem de ser todos os dias (re) conquistada.

A nossa jornada nunca foi feita por atalhos nem se contentou com pouco.

Principalmente depois do jamais esquecido grito popular saído depois das 00h00 do dia 11 de Novembro de 1975, “SOMOS INDEPENDENTES”

Mesmo a viver em tempos de apertar os cintos, com a cintura rija, nossa mente não é menos criativa, os nossos bens e serviços não são menos necessários do que eram na semana passada, no mês passado ou no ano passado.

A nossa capacidade não foi diminuída.

Dobramos, mas não partimos.

A nossa sociedade não pode continuar a fingir que quer piscar a direita, quando sabe que curvar sempre foi a esquerda.

Ela não continuar caminhar para uma encruzilhada de vulnerabilidade difícil de se aceitar, uma consequência da ganância e irresponsabilidade por parte de alguns, mas também da nossa incapacidade colectiva de fazer escolhas difíceis e preparar o país para as futuras gerações, porque o futuro a Deus pertence.

Parafraseando o nacionalista Ruy Mingas, ainda vamos a tempo de ensinar os nossos “meninos a volta da fogueira a aprender a erguer uma bandeira, a
aprender o quanto custou a liberdade “.

Para isso, nem precisamos revisitar a história para aprender com as experiências dos outros, para depois aparecerem também outros a nos ensinar quão rica já foi a nossa.

E porque não evocar o pan-africanista Amílcar Cabral, que disse: “nossa vida pública murcha quando apenas as vozes mais extremas querem chamar a atenção”.