By: Nzongo Bernardo dos Santos
Jornal ÉME – Luanda – 16.08.2025 – Reza a história, que certo condutor que conduzia numa auto-estrada em sentido contrário, recebeu uma chamada telefónica da sua mãe, que lhe dizia, “tem cuidado meu filho, está um maluco a circular na auto-estrada em sentido contrário”.
No mesmo instante, o filho respondeu, “mãe não é apenas um, são muitos”.
Não sei se a história é real ou uma anedota, mas a verdade é que ela me fez lembrar a atitude dos deputados do grupo parlamentar da UNITA, no debate ocorrido na última quarta-feira, 13, na Assembleia Nacional, que procurou analisar as causas e as soluções para os problemas que geraram violentos protestos populares no final de Julho, em algumas províncias do país.
Creio que já é seguro pensar, que somos uma gota no oceano entre os angolanos, invariavelmente tomados por uma espécie de angústia depressiva sempre que um deputado da bancada do “galo negro” fala com coração na boca, proferindo declarações politicamente evasivas e linguisticamente bárbaras.
Na última quarta-feira, não foi diferente.
“Meus estimados camaradas, na luta de libertação de Angola, ninguém ouviu falar de causas justas. Nós vamos a mais uma luta de libertação de Angola”, estrebuchou em género, número e grau o deputado (independente) da UNITA durante o acalorado debate.
Há quem diga que essa retórica oca não passou apenas de um lapso de memória conveniente. Muito conveniente mesmo, ao ponto de me deixar com uma dor curiosa na alma, a morder o lábio e a coçar a cabeça!
O nosso pacote de celebrações dos 50 anos da Independência Nacional, não pode ser manchado por pronunciamentos insípidos, insensíveis e negacionistas, que são um atentado contra a sanidade de qualquer ser razoavelmente consciente.
Sejamos realistas. A maioria dos angolanos tem idade suficiente para reconhecer que, muitas vezes, os que incitam à insurreição generalizada e ao saque irreflectido estão apenas à espreita, desejosos de assumir o poder e usufruir dos privilégios que hoje condenam.
A ideia de que é necessário “mais uma luta de libertação” para que haja mudança institucional no país, não é apenas perigosamente ingénua, mas também perturbadoramente incongruente.
Pergunto-me, estas pessoas que hoje procuram ressuscitar de maneira narcísica os fantasmas e os demónios da euforia que acarretam as lutas de libertação, encruzilhada com vários caminhos, perderam a consciência dos danos causados ontem pelas três décadas de conflito armado que o país atravessou?
A História repete-se, sobretudo quando se recusa a ser lida.
As posições e as propostas que vêm da comunicação feita por políticos são essenciais. Servem de guia para que o cidadão-eleitor faça as suas escolhas de forma conscientes e responsável.
Quando um político, a semelhança do deputado (independente) da UNITA faz afirmações públicas profundamente desorientadoras, a ponto de fazer arder os ouvidos dos angolanos e angolanas, não se trata de alguém que é apenas extremamente incompetente, mas também altamente perigoso.
Este político devia se abster de advogar os interesses dos cidadãos em sede própria, por falta de compromisso pátrio.
Doutra forma, pode servir para tudo. Menos para a política.