Jornal ÉME – Luanda – 04.01.25 – René Pelissier, em 1978, inicia o estudo sobre o massacre da Baixa de Kassange, que foi retomado por Aida Frendenthal em 1995 com um artigo na Revista de Estudos Africanos.

Era a década de 1960 do século XX.

As condições económicas da colónia, Angola, foram reforçadas com a intervenção de duas companhias pujantes da época, a Cotonang e a Diamang, que foram constituídas nas décadas de 1940 e 1960 como máquinas de exploração de mão-de-obra e de usurpação de terras dos autóctones. Estas empresas retiraram dos camponeses propriedades de cultivo para prestarem serviço exclusivo a elas própiras.

Com esta exclusividade a Cotonang passou a ser a única companhia a vender o algodão aos demais comerciantes interessados, o que provocou revoltas e descontentamento acentuado no seio dos camponeses angolanos.

Reza a história que Dezembro de 1960 ficou marcado como o início da resistência dos camponeses devido ao seu descontentamento. As condições de trabalho eram desumanas, atingiram o insuportável. Nessa altura registou-se uma ausência massiva dos trabalhadores nos postos de trabalho e a sua recusa ao pagamento do imposto, o que enfureceu ainda mais a máquina repressiva colonial.

A influência dos acontecimentos no Congo Leopoldville em 1959, em que foram pilhadas e destruídas lojas de comerciantes portugueses, principalmente por nacionalistas angolanos, o nível de organização das células clandestinas do MPLA em Luanda, Cuanza Norte, Malanje e parte do norte de Angola, reforçaram a lógica da acção dos camponeses em negarem a subjugação e sevícias coloniais.

A Independência do Congo aumentou a consciência nacionalista e provocou um impacto estimulante na necessidade da luta.

A revolta ocorre no dia 4 de Janeiro de 1961, quando os capatazes da Cotonang foram amarrados na Sanzala do soba Quitota, a 10 Km do posto Milando-Malanje.

A lógica da acção dos camponeses foi de autodefesa.

As forças coloniais mobilizaram duas companhias de caçadores especiais e a força aérea da II região que mobilizou oito bombardeiros PV2 e T6 perante uma população desarmada. Foi incrível! Mais de 10.000 camponeses, mulheres e crianças foram vítimas do massacre colonial.

Seguiram-se eventos violentos de angolanos contra a presença colonial. Inaugura-se uma nova época, surge o 4 de Fevereiro, o 15 de Março e outros. Instala-se em Angola uma grande tensão, mais de 75% de terras aráveis para produção de algodão são expropriadas, vítimas da injustiça colonial.

Pode-se assim compreender o quão foi dura a luta para a conquista da Independência de Angola a 11 de Novembro de 1975.

À juventude cabe o dever de preservar as conquistas alcançadas, pois muito suor e sangue de filhos de Angola foi vertido desde a resistência à ocupação colonial, até a realização do Programa Mínimo do MPLA.

Aos jovens, cabe, hoje, a missão de construir uma sociedade desenvolvida, cujo foco seja a satisfação das necessidades essenciais de cada angolano.

Augusto Brandão – Formado em História