Jan 20, 2022

Culturalmente falando da nossa Cultura

  • Por António Pompílio

Jornal ÉME – 20.01.22 – Fala-se tanto sobre cultura e quase nada é feito para a sua grandeza. Penso que estamos a desculturar.

O interesse pela cultura deve ter a cumplicidade das entidades titulares. Em verdade verdadeira, são insuficientes os incentivos para o desenvolvimento e crescimento deste sector tão importante para qualquer sociedade. Lembrar que, a Cultura é a identidade de um país que se relaciona intimamente com as tradições e os saberes, os quais são determinados pelo povo, assim como: as festas, o folclore, o artesanato, as músicas e a dança.

Infelizmente ainda não possuímos uma indústria cultural capaz de transformar os pilares da arte (os artistas), de pedintes em riqueza material e espiritual. A cultura de um povo é a sua riqueza, a sua identidade. 

O reduzido apoio aos criadores da arte, dos agentes culturais e das instituições públicas e privadas, dificulta o crescimento e o desenvolvimento da nossa cultura. A Lei do Mecenato em Angola deve deixar de ser uma utopia para que as instituições culturais públicas ou privadas e outras associações se revigorem.

É oportuno destacar que, apesar da crise financeira do país e da pandemia do Coronavírus que abala o mundo, a exígua fatia do Orçamento Geral do Estado (OGE) deve servir racionalmente e de forma incondicional o sector da Cultura, no sentido dos artistas e outras entidades culturais terem os seus projectos devidamente apoiados. É caso para lembrar que no meio de grandes dificuldades, surgem as melhores oportunidades. 

Somos todos chamados a bater o funje. Falta-nos o empreendedorismo cultural na perspectiva  de cada um fazer valer a sua ideia, escrever a sua história e realizar a sua obra. Citando Lounsbury e Glynn (2001), “o empreendedor cultural é aquele que conta histórias que inspiram, convencem e fazem sentido”.

É imperioso que o Estado e instituições afins apoiem projectos culturais e promovam iniciativas que garantam a valorização da cultura angolana. Neste mundo globalizado, a cultura transforma a vida, transforma a sociedade. A cultura é nosso património, a nossa afirmação, a nossa identidade nas suas várias formas de expressão. Sejam monumentos históricos, museus, práticas tradicionais, culinária, artes plásticas, literatura e formas de arte contemporânea, até mesmo a nossa forma de pensar e agir. 

A cultura enriquece a nossa vida quotidiana de inúmeras formas. Ela constitui uma fonte de identidade e coesão para as comunidades afectadas pela mudança desconcertante e pela instabilidade económica.

É preciso reforçar a ideia de que não se faz um país sem cultura. Pois, não faz sentido que salas de cinemas virem igrejas, as livrarias virem bares e armazéns de cerveja, como temos observado um pouco por todo o país, principalmente na cidade de Luanda.

A actividade cultural no país deve ser revitalizada e de forma sustentada, isto é, com a busca pelo conhecimento, a busca pela resposta, o questionamento incessante, o apelo ao desconhecido, a paixão pela arte, o incentivo para a leitura, enfim, o incentivo para a arte e a cultura.

A juventude ocupa um lugar privilegiado, no sentido de colocar ideias novas e criativas para o desenvolvimento e crescimento cultural. Tudo que move e comove os jovens são aspectos culturais, são troncos de uma árvore muito espessa e inexplorada. Um bom livro, uma caminhada por centros culturais, uma conversa inteligente, programa e hábitos que lhe acrescentam sabedoria, sensibilidade e habilidade de entender e apreciar os detalhes que, muitas vezes os passam desapercebidos. Essa essência ocupacional rica e saudável dos jovens, deve ser resgatada e com o apoio institucional. É neste contexto que deixo aqui o meu apelo às entidades competentes angolanas, particularmente aos titulares da pasta do Turismo e Ambiente, que promovam melhor a nossa cultura, dinamizando-a e difundindo-a cada vez mais e melhor.